Femen, muitas sombras por trás do movimento

Feministas ucranianas que tornaram-se famosas por seus protestos de topless são patrocinadas por três multimilionários

Integrantes do Femen

Oksana Shachko, Inna Shevchenko e Alexandra Shevchenko, ativistas do Femen.

Tradução por Alyda Sauer

Kiev – O meio é a mensagem, escreveu o célebre semiologista Marshall McLuhan no fim da década de 1960, sublinhando que muitas vezes o meio/veículo usado para divulgar uma comunicação acaba sendo a própria mensagem. Não sabemos se Rocco Siffredi algum dia leu McLuhan, no entanto o ator pornô foi, até agora, a única pessoa na Itália que disse diante das câmeras de Piero Chiambretti que falta credibilidade nos protestos do grupo de ucranianas do Femen, aparentemente comprometido com a luta contra a prostituição no seu país. E fez isso com base em uma análise tão simples quanto difícil de refutar. Que credibilidade têm as meninas jovens e bonitas de seios nus em seus atos de denúncia? Talvez, disse Siffredi, pelo fato de irritarem as feministas da nossa casa, as meninas da Femen sejam elas mesmas prostitutas. Expressada nesses termos, a questão se torna certamente simplista, mas o ator pornô merece o crédito de ter levantado uma dúvida legítima sobre a autenticidade da Femen.

Não tão perspicazes pareceram as transmissões televisivas da Femen e da Ucrania por ocasião do campeonato europeu de futebol no jogo Polônia x Ucrania, em que esta última foi apresentada, em todos os veículos, menos em alguns programas de rádio que não tinham espaço para esse estudo, como um país em que se extermina os cães de rua e onde o Femen é ativo na luta contra a prostituição. Infelizmente as notícias dessas últimas semanas têm negado esses clichês. verificou-se que a maior parte das imagens exibidas que circularam nos jornais e na internet vieram de fotos tiradas na China e na Romênia. O que tende a reduzir, senão por em xeque, o alcance desses massacres.

Mas vamos ao Femen. As revelações da semana passada em Kiev confirmaram algo fácil de intuir, ou seja, que essas jovens não são ativistas desinteressadas, e sim que recebem um salário regularmente pelo trabalho que fazem. Para um olhar mais atento, não pode ser outra coisa. Quem conhece a realidade ucraniana sabe que uma jovem sem emprego e sem uma polpuda conta bancária não recebe visto para a Europa, enquanto que as do Femen, assim como os executivos das maiores empresas ucranianas, têm uma espécie de visto em aberto… Daryna Chyzh, repórter do canal 1 + 1 , conseguiu se infiltrar no movimento anti-islâmico em ato realizado em Paris – essa jovem jornalista participou das manifestações de topless depois de semanas de treinamento, em que, entre outras coisas, ensinam como mostrar os seios diante das câmeras – revelou ao vivo na televisão, no programa investigativo Groshi, algumas informações interessantes.

Todas as ativistas receberiam 1000 euros por mês, e as funcionárias da sede de Kiev, de onde se coordenava as várias atividades, recebem salários de 2500 euros por mês. O aluguel de um escritório na capital, por sua vez, custa 2000 euros por mês. O custo de transporte por dia em Paris por manifestante ser de 1000 euros fala de uma organização que se beneficia de um financiamento regular e substancial. Chyzh, que viu várias vezes a líder do movimento, Aleksandra Shevchenko, na companhia dos bilionários alemães Helmut Geier e Beate Schober e do empresário norte-americano Jed Sunden, suspeita que esses são apenas alguns dos maiores patrocinadores do Femen. Essa hipótese, que ainda tem de ser provada, já inspirou textos de muitos adeptos da teoria da conspiração. Segundo eles o ocidente estaria conspirando contra a Ucrânia e contra o Kremlin. Apesar da líder do movimento, Shevchenko, dizer que está sendo vigiada pelo serviço secreto ucraniano, até agora as demonstrações do Femen não têm preocupado, de modo algum, o presidente Yanucovych e sua comitiva.

Ao contrário, pode-se apontar que, paradoxalmente, têm sido fundamentais para a consolidação de um regime cada vez mais autocrático. A atenção da mídia dado a Femen tem de fato colocado em segundo plano os problemas reais do país, tais como as graves violações dos direitos civis, ataques à liberdade de imprensa e os processos políticos em que foram condenados dois líderes proeminentes da oposição: a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko e ex-ministro do Interior, Yuri Lutsenko.

É interessante dizer algumas palavras sobre o episódio teve lugar em Kiev há um mês, quando, para expressar solidariedade à banda Pussy Riot, duas representantes do Femen de topless e armadas com motosserras destruiram uma cruz greco-católica erguida nos dias da Revolução Laranja para lembrar as vítimas da Cheka, a terrível polícia stalinista. Este incidente perturbador levanta várias questões. Como é que em um país como a Ucrânia de hoje, onde é provável que você acabe na cadeia só porque escreve coisas que desagradam ao partido do presidente, as duas ativistas não foram sequer levadas sob custódia da polícia? Se queriam realmente se solidarizar com a Pussy Riot, por que não atingir um símbolo da Igreja Ortodoxa do Patriarcado de Moscou acusado por roqueiros moscovitas de ser conivente com o regime de Putin?

O objetivo escolhido em vez disso foi foi um símbolo político-religioso de memorial às vítimas do stalinismo, erguido num momento em que milhares de cidadãos tentavam libertar-se do jugo de Moscou e do regime corrupto de Kuchma com a Revolução Laranja. No momento, a única coisa certa é que o Femen é um movimento que tem importantes recursos financeiros e que decidiu expandir o seu alcance. Depois de abrir uma nova sede em Paris, devem prosseguir com outros em Nova York, Montreal, São Paulo e talvez em Tel-Aviv. Essa hipótese, que ainda tem de ser provada, já inspirou textos de muitos adeptos da teoria da conspiração. Segundo eles o ocidente estaria conspirando contra a Ucrânia e contra o Kremlin, que apóia Yanucovych.

Publicado originalmente em italiano aqui

2 Respostas para “Femen, muitas sombras por trás do movimento

  1. A pergunta que não quer calar, quais os interesses dos tais bilionários alemães e americano em financiar uma “organização” como o femen? Realmente, é um prato cheio para os “conspirologos”…

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